Donald Trump 2.0

Demorei mais tempo do que esperava para escrever este artigo sobre a (re)eleição do The Donald e sobre as eventuais consequências para as principais praças financeiras globais. Senti que seria importante separar o trigo do joio e ir além das manchetes, sensacionalismo e discursos ideológicos/partidários. O movimento inicial de subida da bolsa Norte Americana centrou-se no setor industrial, financeiro e energético, tendo os Mercados Emergentes, sobretudo a China, o Mercado Europeu (ex UK), e o setor imobiliário e de saúde Norte Americanos reagido negativamente. Acima de tudo, o mercado suspirou de alivio pois evitou-se o pior cenário possível: resultados de eleição demasiado reunidos e em que uma das partes não aceitasse uma transição/continuação pacífica do partido em poder.

Agora que o Presidente-eleito já comunicou os nomes da sua lista, em que constam nomes como Elon Musk e Vivek Ramaswamy para encabeçar o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), Robert Kennedy para ministro da saúde, Marco Rubio como Secretário de Estado, Pete Hegseth como Secretário de Defesa, consultores externos como Tucker Carlson, Steve Bannon e alguns familiares próximos, importa mencionar que não só Trump, como também alguns membros da sua lista, pronunciaram-se publicamente desfavoráveis quanto à gestão da política monetária que a Reserva Federal, encabeçada por Jay Powell, tem feito nos últimos 4 anos.

Nos nomes acima mencionados, tal como em todos os outros de menor relevo, é-nos possível começar a ver um padrão: durante o mandato de Trump, lealdade será requisitoessencial, os impostos serão mais baixos, o papel do governo na economia (desregulamentação e menos distorções aos preços de mercado) irá reduzir, outros países serão vistos como aliados ou como inimigos, sem meio termo, taxas aduaneiras serão utilizadas como instrumentos de bullying e negociação multilateral, e um consenso de que a China é  uma ameaça existencial para os EUA. Como Alexandre da Macedónia (alegadamente) disse: heaven cannot brook two suns nor earth two masters.

Se tivesse que estabelecer um paralelo histórico, concordo com a opinião de Ray Dalio, fundador do poderosíssimo hedge fund Bridgewater Associates, que encontra várias semelhanças entre a política doméstica e externa atual dos EUA, a maior potência mundial e com monopólio de impressão da moeda de reserva global, o Dólar Americano, com a política doméstica e externa da década de 1930:

  • Em Junho de 1930, o Smoot-Hawley Tariff Act aumentou ainda mais as elevadas taxas aduaneiras sob produtos agrícolas em 20%.
  • Isto desencadeou uma onda interna de pressão de outras indústrias americanas para implementar proteções semelhantes.
  • Simultaneamente, vários países responderam com acréscimos e aumentos de taxas aduaneiras sob produtos americanos.
  • Como resultado, o comércio global caiu pronunciadamente, o que afetou e muito a lenta recuperação económica americana pós depressão de 1929.
  • O agravar da situação económica em vários países esteve na origem do descontentamento popular que conduziu à ascensão e eleição de líderes mais autoritários e partidos europeus com ideologias mais extremistas anos mais tarde.

Contudo, uma reflexão imparcial do que a segunda presidência de Donald Trump pode trazer para os mercados exige que também consideremos a outra face da moeda. Neste campo, o renomeado economista Dr. Ed Yardeni, que é dos poucos economistas que tem estado certo sobre a trajetória da economia e inflação americana nos últimos 4 anos, compara os 2020s com a década de 1920.

Uma crescente onda de desregulamentação e aumento de produtividade na América pós primeira guerra mundial originou um crescimento real (pós-inflação) do PIB de 46.44% entre 1920 e 1929. Mais concretamente:

  • A taxa mais alta de IRS caiu de 73% para 25%.
  • Eliminação de controlos e restrições durante a guerra e adoção de uma abordagem mais laissez-faire e de mercado livre.
  • Reabertura de bolsas de valores e mercados de capitais.
  • Crescimento e expansão da indústria automóvel, rádio e comunicação e da rede elétrica e infraestruturas de energia.
  • Adoção de novas estratégias de gestão e de produção, popularizadas por Taylor e Ford.
  • Crescimento e expansão de centros urbanos e de redes de transporte, que exponenciou o comércio

Será Trump e a sua equipa capaz de aproveitar as oportunidades da Inteligência artificial e uma resolução dos conflitos na Ucrânia e nos Médio Oriente?

João Feliciano Martins

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