Poucas semanas depois do ataque norte-americano aos três principais centros nucleares iranianos — numa ação militar relâmpago que ficou conhecida como Operação Midnight Hammer — o cenário geopolítico permanece carregado de tensão e incerteza. Embora os mísseis tenham silenciado temporariamente a ambição nuclear do Irão, não apagam as chamas do ressentimento que ardem na região.
Os ataques, que tiveram lugar na madrugada de 21 para 22 de junho, destruíram parcialmente infraestruturas consideradas estratégicas pelo governo iraniano. A resposta inicial de Teerão limitou-se a ameaças e pequenos ataques de retaliação indireta contra interesses norte-americanos e israelitas.
No entanto, o que parecia um conflito prestes a escalar rapidamente foi momentaneamente travado por um acordo de cessar-fogo, alcançado sob intensa pressão diplomática da União Europeia e de parceiros regionais, como o Qatar e Omã. Este acordo, que muitos diplomatas classificam como “extremamente frágil”, permitiu a reabertura parcial de rotas comerciais no Golfo e reduziu os receios de bloqueio do Estreito de Ormuz, por onde passa quase 1/5 de todo o petróleo transportado no mundo.
Apesar da trégua, os últimos dias têm mostrado sinais preocupantes. Segundo fontes internacionais, milícias aliadas ao Irão intensificaram ataques a posições norte-americanas no Iraque e na Síria, enquanto Trump reiterou que “todos os meios permanecem sobre a mesa” para impedir a reconstrução do programa nuclear iraniano.
O Presidente norte-americano, que continua a usar esta operação como bandeira eleitoral, voltou a sublinhar que os EUA não permitirão que o Irão retome o enriquecimento de urânio, mesmo que tal implique “novas ações cirúrgicas”.
Como isto está a mexer com os mercados e a economia global?
A tensão prolongada já teve efeitos claros:
- O petróleo ainda se mantém acima dos 95 dólares por barril, mesmo após uma ligeira correção. Investidores receiam interrupções súbitas no fornecimento.
- Ouro e outros ativos-refúgio registaram forte procura, tendo o ouro superado brevemente os 2.500 dólares por onça.
- As bolsas globais recuperaram parte das quedas iniciais, mas continuam nervosas, sobretudo nos setores de transportes e energia.
- O dólar consolidou ganhos, num reflexo clássico de procura por segurança.
- Empresas de defesa e energia registaram valorizações robustas, à medida que os investidores antecipam maiores gastos militares e pressão sobre infraestruturas energéticas.
O que mudou desde os primeiros ataques?
Se nos primeiros dias o risco era uma escalada militar total, hoje o risco principal passou a ser o conflito prolongado de baixa intensidade, com sabotagens e ataques indiretos que prolonguem a instabilidade económica.
Outro elemento novo é a crescente pressão da China e da Rússia para conter a agressividade dos EUA, temendo que a volatilidade do Médio Oriente afete os seus interesses energéticos e comerciais.
Na Europa, alguns governos começam a debater novos planos de contingência energética para o outono, caso os preços voltem a disparar. Portugal e Espanha já sinalizaram que vão reforçar reservas estratégicas de combustíveis.
Cenários prováveis nas próximas semanas
Especialistas dividem-se entre dois cenários principais:
Escalada controlada: Pequenos ataques de retaliação iraniana e nova ofensiva limitada dos EUA, mas sem bloqueio total do Golfo. Este cenário manteria alta volatilidade nos mercados, mas sem um choque de oferta massivo.
Negociação prolongada: O Irão aceita supervisionar temporariamente parte do seu programa nuclear em troca de alívio parcial das sanções. O petróleo poderia recuar e trazer algum alívio económico global.
Até agora, a retórica de Trump e do governo iraniano sugere que o primeiro cenário é mais provável.
O que podem fazer investidores e empresas?
Num ambiente tão incerto, as estratégias mais consensuais são:
Diversificar a exposição setorial e geográfica;
Reforçar a liquidez para aproveitar eventuais quedas;
Monitorizar contratos de fornecimento energético e cadeias logísticas;
Considerar cobertura cambial caso haja exposição significativa a moedas emergentes.
Uma trégua que não se parece com paz
O cessar-fogo anunciado não deve ser confundido com uma resolução definitiva. O Médio Oriente continua a ser um tabuleiro instável onde o próximo movimento pode reconfigurar os preços da energia, as cadeias de abastecimento e os equilíbrios geopolíticos.
Os investidores têm motivos legítimos para o receio demonstrado, mas também há oportunidades claras em setores como defesa, energia e ativos de proteção — se o risco for gerido com disciplina.
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