Quando jogamos futebol, o objetivo é marcar mais golos. Não importa quantos golos sofremos; desde que marquemos mais um do que os que sofremos, ganhamos. No ténis, não importa quantos primeiros serviços vão à rede e, no golfe, não importa quantos tee shots vão parar aos bunkers. O que importa é ser o primeiro a ganhar três sets ou alcançar o menor número de pancadas para concluir os 18 buracos, respetivamente. Infelizmente, quando investimos, tudo isto importa.
Anos de sucesso e juros compostos podem desaparecer rapidamente com um portefólio concentrado que sofre um drawdown de 70% ou mais (Meta e Bitcoin em 2022; Amazon, Microsoft e HP em 2001; Procter & Gamble, IBM e Coca-Cola em 1972; Citibank e JP Morgan em 2008; Toyota, Mitsubishi e Sony em 1990). Estes são os “bons exemplos”, pois recuperaram o seu valor. Pelo caminho, ficou uma longa lista fúnebre de nomes que nunca voltaram aos seus máximos históricos: IBM, Cisco, Kodak, Lehman Brothers, Toys“R”Us, WireCard e General Electric. À partida, todas estas blue chips proporcionaram retornos espetaculares aos seus acionistas, e poucas nuvens no horizonte indicavam que o seu sucesso não duraria para sempre.
O retorno de 1.014% do Nasdaq 100 entre 1995 e 1999 evaporou no crash da bolha tecnológica e demorou 15 anos a recuperar o seu máximo histórico de 4.041. Ao contrário do que se possa pensar, o investidor não “voltou à estaca zero” ao fim desse período. Assumindo que não vendeu perto dos mínimos (como muitos fizeram), perdeu 15 anos de juros compostos, e a inflação deteriorou significativamente o seu poder de compra. No caso do Nikkei 225, o índice de referência do mercado acionista japonês, que no seu auge em 1989 representava 45% do valor do mercado acionista global (atualmente cerca de 5,5%), os retornos de 282% gerados entre 1986 e 1989 desapareceram, e os investidores tiveram de esperar 34 anos até esta posição voltar ao seu anterior esplendor. Tudo isto antes de considerarmos taxas de gestão, custos de transação e impostos.
Existem lições que devemos retirar destes episódios:
Retornos passados não são garantia de retornos futuros
Esta é uma ressalva que os reguladores adoram, mas que os investidores têm imensa dificuldade em recordar. É compreensível, pois o eterno fenómeno de tendência de reversão para a média, que os preços de mercado exibem, é uma característica e não um acidente — algo que não se aplica à maioria do nosso quotidiano. Se um trabalhador demonstra uma capacidade e qualidade de trabalho acima da média, um CEO não espera que o desempenho desça para se nivelar com a média dos restantes trabalhadores. Muito pelo contrário. Se um atleta vence repetidamente várias competições na sua modalidade, é porque é bom, e há uma forte probabilidade de continuar a vencer.
No mundo dos investimentos, isto não acontece perpetuamente (apesar de existirem raras exceções, mas que são, efetivamente, exceções). Uma empresa líder que vende sistemas de TI para o setor de manufatura de armamento terá uma excelente performance num clima de crescente volatilidade, tensões e conflitos geopolíticos, como o que vivemos hoje. No entanto, estes períodos seguem um ciclo que eventualmente reverte. Todos os conflitos são inevitavelmente sucedidos por um período de paz. O ciclo económico é notavelmente volátil e tende a reverter.
Uma empresa com uma estratégia de crescimento agressiva, financiada com dívida, tende a ter uma excelente performance quando a economia cresce e as taxas de juro estão baixas. Contudo, também estes fatores seguem um ciclo que tende a reverter, deixando muitos investidores “apanhados na curva”.
Continuamos na edição da próxima semana.
João Feliciano Martins
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