A Nova Ordem Comercial de Trump: Impacto Global, Energia e Segurança

A política comercial do Presidente Donald Trump está a redesenhar as relações económicas globais. Com tarifas pesadas sobre produtos do México, Canadá e China, e uma visão estratégica para a segurança energética dos EUA, o mundo enfrenta um novo paradigma de dependência comercial e geopolítica. Este artigo explora as implicações dessa estratégia nos mercados financeiros, na inflação e no posicionamento global dos EUA.

1. A Guerra Comercial: Tarifas e Reações Globais

No sábado passado, a Casa Branca anunciou tarifas de 25% sobre bens importados do México e do Canadá (10% para produtos energéticos canadianos) e 10% sobre todos os bens importados da China. Em resposta, o Primeiro-Ministro canadiano, Justin Trudeau, aplicou tarifas retaliatórias de 25% sobre C$155 mil milhões em produtos dos EUA, enquanto a Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, mobilizou 10.000 soldados para reforçar a segurança na fronteira e travar a influência chinesa.

Os efeitos destas tarifas são profundos:

  • Os EUA importaram US$1,36 bilião em bens do Canadá, México e China em 2024. Com uma taxa média de 19% sobre esses produtos, estima-se um impacto de US$206 mil milhões na economia americana.
  • O PIB do Canadá e do México cresce a 1,5% e 0,6%, respetivamente, enquanto os EUA registam um crescimento de 2,5%. O impacto da guerra comercial pode agravar as divergências económicas entre esses países.
  • Os EUA exportaram US$760 mil milhões para esses três países, e as tarifas retaliatórias podem travar significativamente este fluxo comercial.

2. O Valor Estratégico do Canadá e do México

Para Trump, o México representa uma ameaça à segurança nacional devido ao tráfico de drogas e à migração descontrolada. Mas também considera a proximidade económica entre o México e a China uma vulnerabilidade inaceitável.

No caso do Canadá, a questão é diferente. O país é pacífico e estável, mas detém vastos recursos energéticos. O Canadá exporta 3,9 milhões de barris de petróleo por dia para os EUA, bem acima dos 397.000 barris enviados pelo México. Juntos, México e Canadá representam 25% do crude processado nas refinarias americanas.

As tarifas não são apenas uma estratégia protecionista, mas um meio de Trump reforçar o controlo dos EUA sobre os recursos energéticos da região.

3. O Impacto na Inflação e nos Mercados Financeiros

Ao contrário das preocupações sobre uma espiral inflacionária, as tarifas de Trump em 2018 não provocaram aumentos significativos na inflação ao consumidor. No entanto, a atual conjuntura é diferente:

  • A inflação esperada nos EUA está entre 2,7% e 3,0% para os próximos anos.
  • O mercado laboral está sob pressão, com a expulsão de mão de obra imigrante e a necessidade de substituição por trabalhadores americanos, mais caros.
  • A China enfrenta uma crise económica interna e continua a depender dos EUA para absorver as suas exportações.

Se a inflação subir acima de 3,0%, poderemos ver taxas de juro mais altas e um aumento de US$300 mil milhões nos encargos anuais da dívida americana.

4. Trump e a Energia: O “Project 2025”

Trump está a implementar um plano de longo prazo para reduzir a dependência dos EUA de fontes de energia estrangeiras instáveis. O “Project 2025”, desenvolvido pela Heritage Foundation, defende uma política energética centrada no hemisfério ocidental. O documento oficial afirma:

“Os [EUA] devem trabalhar com o México, Canadá e outros países para desenvolver uma política energética hemisférica, reduzindo a dependência de fontes de combustíveis fósseis distantes e sujeitas a manipulação.”

Dado o contexto geopolítico, Trump procura consolidar uma “zona de segurança” na América do Norte, garantindo acesso prioritário aos recursos energéticos regionais.

5. Conclusão: O Futuro das Relações EUA-Canadá-México

As relações entre os EUA, o Canadá e o México estão a passar por uma transformação estratégica. Não se trata apenas de tarifas e protecionismo, mas sim de um reposicionamento geopolítico e económico:

  • O México precisa de travar a criminalidade e conter a influência chinesa para evitar tarifas mais severas.
  • O Canadá enfrenta pressões para alinhar a sua política energética com os interesses americanos.
  • Os investidores devem preparar-se para uma reconfiguração do comércio global, com possíveis aumentos na inflação e oscilações nas taxas de juro.

Independentemente do desfecho, uma coisa é certa: os EUA estão a redefinir a sua influência económica e energética na América do Norte. As próximas décadas serão cruciais para entender até que ponto esta política moldará o equilíbrio de poder global.

João Feliciano Martins

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