Os Erros Mais Comuns de Investidores – Parte 2

Na semana passada, iniciámos a nossa viagem pelos erros mais frequentemente cometidos pelos investidores. No artigo de hoje, continuamos a nossa procura por armadilhas e como evitá-las.

Todos os bull markets criam génios

A maioria dos mercados é bastante eficiente, especialmente em horizontes temporais maiores. Ao longo de um ciclo económico e de muitas transações, a probabilidade de as nossas decisões contribuírem para obter um retorno superior ao do mercado tende a aproximar-se dos 50% num cenário otimista. Pouco diferente de atirar uma moeda ao ar, ou de ter um macaco a atirar dardos para uma parede com nomes de empresas.

Os dados sobre a indústria refletem outra realidade. Segundo dados da Morningstar e da Vanguard:

  1. 80% dos gestores profissionais de fundos de investimento não conseguem obter um retorno superior ao da benchmark ao longo de 10 anos.
  2. 90% dos gestores profissionais de hedge funds não conseguem obter um retorno superior ao índice de referência do mercado anualmente.
  3. Apesar da média anual de rentabilidade dos fundos do mercado acionista nos EUA rondar os 12% nos últimos 20 anos, os investidores “amadores” nestes mesmos fundos apenas obtiveram um retorno médio anual de 5,5%.
  4. Dos três fenómenos que listei, considero que o terceiro seja o mais surpreendente. Porque é que isto acontece? Na procura de retornos superiores, os investidores “amadores” tendem a comprar os fundos que demonstram uma performance recente mais alta e a vender os fundos que demonstram performances recentes insatisfatórias numa perfeita demonstração de FOMO (Fear Of Missing Out). Na prática, todas as estratégias de investimento — quer growth, value, small caps, duration, real assets — têm o seu momento ao sol quando as condições vigentes no mercado assim o favorecem.

Como bem sabemos, não é preciso uma exposição prolongada ao sol do meio-dia para queimar. Infelizmente, para os nossos investidores “amadores”, tudo tende a ser sol de pouca dura.

Em 2020, os ETFs da ARK, geridos pela notável Cathie Wood, geraram espetaculares retornos superiores a 100%. Esta gestora apostou fortemente num pequeno grupo de empresas altamente promissoras, disruptivas e com um modelo de negócio anti-Covid que deslumbrou os investidores e cujo preço das ações parecia não ter limite. Infelizmente, estas empresas foram versões modernas do mito de Ícarus, que quis voar demasiado perto do sol. Boas empresas a preços injustificadamente altos não são bons investimentos. Quatro anos depois, a ARK Investments, juntamente com a KraneShares, são as duas empresas que mais dinheiro perderam para os seus investidores.

Em 2020, o investimento em empresas associadas ao setor de energias renováveis, que podemos medir através da performance do iShares Global Clean Energy UCITS ETF (apenas como exemplo), prometia ser um novo El Dorado, dado o ambiente de baixas taxas de juro, apoios governamentais crescentes e a transição inevitável para fontes de energias mais sustentáveis. Uma vez formada uma mini bolha especulativa, os investidores perceberam que os lucros futuros que ansiavam demorariam anos a concretizar-se e que a indústria ainda teria que passar por algumas fases de consolidação e reorganização antes de atingir os níveis de rentabilidade esperados. O preço deste ETF caiu 60% desde janeiro de 2021, revertendo assim todos os ganhos.

Também em 2020, as empresas norte-americanas a operar no setor de produção e comercialização de canábis tiveram uma subida vertiginosa de 93% entre setembro e janeiro de 2021. Para quem investiu e não vendeu, as perdas rondam entre 90% e 95%.

Creio que três exemplos recentes são suficientes.

Que lição devemos retirar? Se tivermos sorte ou talento suficiente para investir nos ETFs da ARK, nos ETFs da iShares Clean Energy e nas empresas de canábis antes do vertiginoso movimento de ascensão, devemos procurar realizar mais-valias gradualmente e reinvestir em outros setores que se revelem mais atrativos ou desfavorecidos. Não devemos vender todas as nossas outras posições e duplicar ou triplicar a nossa aposta. Quem me dera que fosse assim tão fácil.

João Feliciano Martins

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